Intrigas e Monopólio — Uma visão sobre o comércio de Tabaco no século XVII - PARTE I


Saúde à você, ó planta inspiradora! Você, bálsamo da vida,

Poderia bem tu, merecedora do conflito entre as nações;

Incansável fonte de riqueza da Brittania;

Tu, amigo da sabedoria e tu, fonte de vida e saúde.

Tabaco, a planta fora da lei,


-Sir William Vaughn, 1617, escritor e investidor colonial Galês.


          Quando o notório corsário Sir Francis Drake retornou à Inglaterra do novo mundo em sua primeira expedição ao misterioso continente, este trouxe consigo dois produtos que mudariam a dinâmica de consumo entre os Europeus de forma profunda e contínua. A batata e o tabaco foi o que Sir Drake trouxe para ser visto com incredulidade e um pouco de medo, afinal ambas os vegetais eram encarados como profundamente venenosos. É sobre o Tabaco que esta postagem se trata e eu espero esclarecer a importância que este produto teve para a Geopolítica Europeia Moderna e o desenvolvimento de seus respectivos estados.

          O Tabaco foi primeiramente apresentado à Europeus em 1492 quando Colombo primeiramente chegou às Américas, ao observar um índio portando em sua canoa fardos de tabaco, água e comida. O uso de tabaco em pouco tempo foi absorvido pela tripulação e colonos, sendo em 1531 a inauguração da primeira plantação de Tabaco pensada para abastecer os Europeus, em Santo Domingo (na atual República Dominicana).

          A despeito das opiniões negativas dos aristocratas sobre o uso de Tabaco, em cerca de 1571 o Tabaco já se encontrava em praticamente todas as regiões da Europa, tendo sua concentração em Portugal, Espanha, França e Inglaterra. Os poderes aditivos da erva foram somado às crenças (por vezes apoiadas por médicos) que a planta era cura para a maioria das doenças.


 Representação Anthony Chute, corśario e pirata participante da expedição English Armada em Portugal apreciando tabaco americano fumando em cachimbo. Representação encontrada em Chute's Tobacco.


          Apenas no século XVII que nós veríamos de fato uma organização sistemática para o comércio de Tabaco. Em 1614, a Espanha proclamou Sevilla a capital mundial do Tabaco. Todo o tabaco produzido na "Nova Espanha" para a venda na Europa, haveria de passar primeiro por Sevilla antes de ser distribuída para os mais diversos cantos do continente. O Rei Jaime VI da Escócia e I de Inglaterra foi o primeiro a taxar o tabaco, sendo o Rei Luís XIV o primeiro à fazer a distribuição e venda do produto, um monopólio gerido pelo estado. Leis que restringiam o cultivo de Tabaco nas Américas foram aplicadas durante a segunda metade do século XVII em um esforço de garantir um fornecimento estável e de alta qualidade de erva de fumo. Os nativos fizeram parte do esforço de desenvolver essas plantações.


          Apesar dos esforços em limitar o consumo de tabaco apenas para propósitos medicinais, estes esforços falharam miseravelmente em toda a Europa. Na Turquia, a decapitação era a pena para o consumo de tabaco em público,na Rússia e Áustria, seria aplicado multa, prisão ou tortura para os consumidores de tabaco condenados por seu uso. O próprio Rei James VI e I escreveu uma publicação chamada "A Counterblaste to Tobacco", em que ele descrevia o hábito como não-salutar, ímpio e herético, atribuindo vários problemas de saúde em decorrência do uso de tabaco.

          O próprio Rei Jaime VI e I se beneficiar das enormes somas de dinheiro que foram ganhas para a coroa Inglesa em sua pesada taxação sobre o tabaco, o equivalente a 1£ (libra) para cada três pounds (aproximadamente 1,5 Kg) de erva de fumo importada, um enorme valor. A Igreja Católica teve sua parte ao tentar restringir o uso de tabaco, afirmando que seu uso diário era pecaminoso. A descrição de tamanha perseguição e interesses em banir o tabaco da sociedade Europeia é importante para a compreensão da geopolítica econômica desta recorte temporal, pois apesar das fortes impressões pessoais da aristocracia e clero, a demanda econômica suprimiu estas impressões e fez os Europeus aceitarem o comércio de Tabaco como indispensável para o desenvolvimento de seus Estados. 

          Apesar de todos os esforços, o crescimento do comércio da planta havia crescido exponencialmente no século XVII. Em 1614 o primeiro carregamento de tabaco saindo de Jamestown na América do Norte. Sob a supervisão e administração da Virginia Company, este era um tanto modesto em tamanho. Já em 1624 o carregamento que chegou na Inglaterra possuía mais de 90 toneladas, em 1638, o carregamento apresentado possuía cerca de 1.360 toneladas. Registros apontam que no ano de 1680, Jamestown exportava mais de 11.300 toneladas da planta, apenas para o mercado Europeu. A Virginia Company era uma das companhias de comércio mais poderosas do mundo, com significante poder político.

          A história do comércio de Tabaco é uma história de intrigas, monopólios e de uma constante supressão dos fatores econômicos contra a moral e o reacionarismo da política aristocrática Europeia. Esta breve análise pretende expôr um sistema econômico capitalista em desenvolvimento, mas que exibe suas características e praxes já no meio comercial moderno.

Referências:

https://web.stanford.edu/class/e297c/trade_environment/health/htobacco.html

Parker, Charles. Global Interactions in the Early Modern Age, 1400 - 1800(2010)

Romaniello, Matthew. Through the Filter of Tobacco: The Limits of Global Trade in the Early Modern World(2007)




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