A indústria da imprensa e a publicidade da Enciclopédia na Idade Moderna.



  A Enciclopédia, em todas as suas versões, foi uma das maiores (se não a maior) e mais importante  produção escrita e intelectual do período moderno. Num contexto onde a qualidade do papel, da impressão e da estrutura do livro importava tanto quanto o seu conteúdo, a difusão massiva e o empreendimento milionário que a Enciclopédia teve, mostrava a força que a imprensa e a publicidade haviam adquirido já no século XVIII.

Capa da Encyclopédie , ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers. Retirada da Wikipédia
  A Imprensa em si era algo que possibilitava a produção em massa de unidades, volumes e versões diferentes, projetadas para públicos diferentes. As versões mais baratas da Enciclopédia, por exemplo, chegaram a atingir as camadas mais humildes da sociedade, apesar de poucas pessoas serem alfabetizadas. Porém, era muito comum que as edições da época fossem adulteradas, ou tivessem suas ideias distorcidas pelas próprias editoras. Como diz Darnton em seu livro O Iluminismo como negócio, “A publicidade da Enciclopedia, desde o primeiro prospecto de 1751 até o ultimo folheto sobre a Encyclopédie méthodique por volta de 1830, é um aglomerado de meias-verdades, mentiras, promessas descumpridas e anúncios espúrios sobre edições falsificadas.” (DARNTON, Robert. P. 403.)

Imagem presente na Encyclopédie (1772). Desenhado por Charles-Nicolas Cochin.
  Por ser um negócio extremamente lucrativo, porém arriscado, as editoras não mediam esforços para conseguir publicar sua edição da Enciclopédia. Todo o tipo de ajuda seria utilizada, inclusive trapaças e espionagem, por isso, os editores não podiam ser verdadeiros uns com os outros e fariam de tudo para conseguir vender mais. Porém, a importância dessa publicidade está presente na forma com o qual os vendedores julgavam ou imaginavam seus consumidores. Em seu texto, Darnton fala que a Enciclopédia In-quarto foi divulgada como “Um compêndio do conhecimento moderno e uma síntese da filosofia contemporânea.” (DARNTON, Robert. P. 403) Isso nos mostra que as editoras imaginavam que seus leitores estariam no mínimo curiosos para entender e ler sobre a philosophie, ou seja, ela era tão importante quanto o conhecimento informacional que estava presente na Enciclopédia. Isso mostra que as pessoas acreditavam na presença do Iluminismo em sua obra, e esse era o principal fator pelo qual a Enciclopédia foi tão vendida.

  Além da divulgação da Enciclopédia, a publicidade também foi importante pra financiar a produção dos próprios livros. Segundo Guilherme Nery Atem, Doutor em comunicação e Cultura pela UFRJ “Com o aumento dos impostos sobre o papel e sobre a impressão de jornais e revistas, tornava-se quase inviável a atividade da imprensa. Repassar o custo para o leitor-consumidor seria suicídio comercial. Daí a injeção de dinheiro, vinda da publicidade.” (ATEM, Guilherme. P. 08)

  Como complemento do texto e para o entendimento de um pouco da controversa história da Enciclopédia, deixo aqui o link do vídeo TEDEd. O vídeo está em Inglês, porém é bastante didático e explica bem as origens da Encyclopédie. 

Referências Bibliográficas:

ATEM, Guilherme. Persuadere: uma história social da propaganda. VI Encontro Nacional de História da Mídia. 2008.

DARNTON, Robert. O iluminismo como negócio: história da publicação da Enciclopédia (1775-1800). São Paulo : Companhia das Letras, 1996.

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