Inglês: A linguagem global

Império Britânico em sua máxima extensão, com a Índia em violeta.
(Wikipédia)
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Em
seu livro Linguagens e comunidades nos
primórdios da Europa Moderna, mais precisamente no capítulo 5, A mistura de línguas, Peter Burke trata
um pouco do Inglês, língua que hoje em dia é considerada como idioma mundial,
sendo utilizada pela grande maioria dos países para o comercio e para o
turismo. É muito comum que além de seu idioma nativo, o comerciante ou até
mesmo o cidadão comum aprenda o inglês como segunda língua para fins
profissionais, pois existe a necessidade de se comunicar com outras pessoas de
outras nacionalidades que na maioria das vezes também utilizam o Inglês como
forma de comunicação.
Porém,
Peter Burke explicita bem em seu livro que nem sempre foi assim. Na realidade,
o Inglês, pelo menos até o século XVIII não estava nem perto de ser uma das
línguas de alta prioridade para os Europeus continentais. Por exemplo, o
tratado italiano de diplomacia De Legato,
de 1596, escrito por Ottaviano Maggi,
“declarava que um embaixador deveria
saber sete línguas – latim, grego, italiano, francês, espanhol, alemão e turco
– mas não inglês.” (BURKE, Peter. Linguagens
e comunidades nos primórdios da Europa Moderna. P. 131.)
Para
contribuir com o panorama do pouco conhecimento do Inglês, eram pouquíssimos os
livros que foram traduzidos para do Inglês, simplesmente pela falta de pessoas
que tinham o conhecimento dessa língua. Segundo Burke, “Os letrados continentais que sabiam ler inglês eram tão raros, pelo
menos antes de 1700 aproximadamente, que praticamente podem ser relacionados
num parágrafo” (BURKE, Peter. Linguagens
e comunidades nos primórdios da Europa Moderna. P. 132)
A
mudança de panorama começa a acontecer aproximadamente no século XVII. O ensino
do Inglês torna-se mais difundido e o número de traduções, principalmente do
inglês para o francês e do inglês para o alemão torna-se mais frequente, e a
partir dai, o Inglês apenas cresceu, até chegar na língua mundial que é hoje.
Porém, é de deixar qualquer um intrigado sobre como e por que o Inglês
tornou-se a língua mais falada do mundo? Como seu uso tornou-se fundamental
para o desenvolvimento do mundo moderno e contemporâneo em praticamente todos
os três espectros: Político, comercial e social?
Existem
respostas simples pra esses questionamentos, como o fato da colônia britânica
ter chegado a cobrir aproximadamente 1/3 do mundo, e ter de fato se tornado a
maior potência do século XVIII e XIX e o domínio dos Estados Unidos durante o
século XX. Porém, como se chegou até isso é um ponto que deve ser discutido.
Segundo
David Crystal, em seu livro “English as a
global language”, era de grande interesse da colônia britânica que se
expandisse o Inglês para o mundo, ou pelo menos para a parte do mundo no qual a
Inglaterra tivesse domínio. Foram investidos recursos, tanto financeiros como
culturais para que suas colônias aprendessem de fato o Inglês e o utilizassem
como primeira língua. William Russel, em 1801 já tratava o fato do ensino de
Inglês nas colônias ser primordial para o domínio da Inglaterra nos espectros
culturais e sociais.
“Se muitas escolas fossem estabelecidas
em diferentes partes da Asia e da Africa para instruir os nativos, de graça e
com vários prêmios de manufatura britânica para os alunos mais proativos, esta
seria o melhor preparação que os Ingleses poderiam utilizar para a aceitação de
sua administração do comércio, suas opiniões e sua religião. Isso iria tender a
conquistar o coração e a afeição (dos nativos).” (RUSSEL, William. 1801.)
Percebemos
aqui muito claramente a linguagem sendo utilizada como parte do progresso, meio
que como forma de fortalecer a união política. Para Crystal, “O desejo de uma unidade linguística nacional
é o outro lado da moeda do desejo por uma unidade linguística internacional.” (CRYSTAL, David. English as a global
language. P. 79 *Tradução própria) Com a língua inglesa sendo falada em todas
as colônias espalhadas por diversos lugares do mundo, seria compreensível que o
Inglês fosse utilizado como linguagem comercial. Países como a Índia, por
exemplo, e diversos países africanos que tinham matéria prima e produtos que
interessavam a todo o mundo utilizavam o Inglês como língua comercial, o que
meio que obrigava outros países a considerarem o Inglês como uma ferramenta
fundamental para seu desenvolvimento. Isso sem falar da tecnologia britânica,
que com o advento da Revolução Industrial interessava a vários outros países, e
segundo Crystal, vários desses conhecimentos estavam disponíveis apenas na
língua inglesa.
Referências Bibliográficas:
CRYSTAL, David. English
as a Global Language. 2 Ed. Cambridge: Cambridge University Press. 2003.
BURKE,
Peter. Linguagens e comunidades nos primórdios da Europa Moderna. Tradução de
Cristina Yamagagi. São Paulo: Editora UNESP, 2010. (cap. 5 p. 127-156)
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