Absolutismo e mercado — Economia pré-capitalista ou aparelho de dominação feudal recolocado? - PARTE I
"As alterações nas formas de exploração feudal sobrevindas no final da época medieval estavam, naturalmente, longe de serem insignificantes. Na verdade, foram precisamente essas mudanças que modificaram as formas do Estado. Essencialmente, o absolutismo era apenas isso: um aparelho de dominação feudal recolocado e reformado, destinado a sujeitar as massas camponesas à sua posição social tradicional — não obstante e contra os benefícios que elas tinham conquistado com a comutação generalizada de suas obrigações."
Perry Anderson, historiador revisionista Marxista em sua obra Linhagens do Estado Absolutista(1974)
Em contraponto ao colocado por Marx no Manifesto Comunista, Perry Anderson aponta problemas na concepção Marxista de um sistema feudal em decadência, seguido pela criação do elemento revolucionário da burguesia, que substituiria o sistema feudal pelo sistema Absolutista. O autor da obra citada acima vai defender que na verdade as reformas sociais e econômicas que são atribuídas como características de uma progressão capitalista na economia, na verdade são insuficientes para caracterizar a economia Moderna como capitalista. As relações do homem com o campo e com o trabalho ainda preservavam relações tipicamente feudais.
Com o exemplos dos monarcas da Renascença, que tiveram o papel de protagonistas ao usar esta rede de relações feudais para suprimir uma elite econômica mercantil(Marx viria a chamá-los de Burguesia Mercantil) e as massas rurais que já projetavam tentativas de desafiar a ordem vigente aristocrática, agora à partir de uma posição atualizada, modernizada e mais eficiente para a manutenção do poder.

Cosme III de' Medici, Grão-Duque da Toscana retratado por Baldassare Franceschini(1676). Apesar de não diretamente citado por Anderson, o Grão-Duque pode ser um exemplo de monarca de acordo o descrito por Anderson.
Apesar dos fatos apresentados pela visão marxista tradicional não representarem uma visão precisa dos fatos que envolviam a progressão política e econômica na transição do medievo para a modernidade, sem dúvida não pode ser descartado que a descoberta dos mercados da Índia e das Américas, uma nova elite econômica surgiu, assim como uma nova dinâmica no mercado. No entanto, deve-se salientar que a estrutura política e agrária da Europa ainda se manteria com uma prática feudal com fortes características medievais. A monarquia definitivamente se manteria como o sinônimo de estado e praticaria seu absolutismo de forma à manter as massas populares e as elites econômicas mercantis emergentes em seus papeis tradicionais.
Referências:
Anderson, Perry. Linhagens de um Estado Absolutista(1974)
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